Heitor Verardi (Heitor Ricci Verardi)
Heitor Ricci Verardi, também conhecido como Heitor Verardi ou simplesmente Verardi (Passo Fundo, 6 de fevereiro de 1936 — Passo Fundo, 23 de abril de 2010), foi um meia campista de técnica acima da média. É um dos grandes nomes do 14 de Julho, onde jogou entre 1960 e 1964. Iniciou a carreira aos 15 anos no Independente, em 1951, onde permaneceu até 1954, e foi ídolo também no Internacional de Porto Alegre. Ainda foi técnico do 14 de Julho em três oportunidades: em 1961, enquanto jogava, e em 1964 e 1967. Faz parte da Seleção de Todos os Tempos do 14 de Julho e da Seleção de Todos os Tempos do Independente, além de integrar o Hall da Fama do Futebol de Passo Fundo.
História
- Por Marco Antonio Damian, historiador e pesquisador de futebol
Filho do esportista Victório Verardi, Heitor era o mais jovem dos quatro irmãos que jogavam muita bola. O primogênito chamava-se Waldemar Verardi. Era um centromédio de muita classe, elegante, dono de inteligência e visão do jogo. O segundo irmão era Hiran Verardi. Era mais aguerrido do que técnico. O terceiro, Antônio Carlos Verardi, zagueiro que se negava a dar chutões, o comum em sua época. E, o quarto, Heitor. Atuava como meia-esquerda. Driblava, passava a bola com perfeição, possuía domínio esplêndido de bola e a protegia como poucos. Além de marcar seus gols.
Todos eles foram jogar pelo Independente Grêmio Atlético de Amadores, pois o pai era torcedor e um dos fundadores da agremiação. E jogaram muito. O primeiro a deixar o Independente foi Waldemar, convidado a jogar no Grêmio, em 1950. Hiran continuou os estudos e depois parou de jogar. Antônio Carlos foi para o time juvenil do Grêmio e estudar em Porto Alegre. Heitor continuou comandando o alvinegro do Boqueirão, até 1954, quando prestou vestibular para odontologia em Porto Alegre, e logrou aprovação.
O Grêmio esperava Heitor de braços abertos, com a benção de Waldemar. Ocorre que Heitor torcia para o Internacional, assim com Hiran. Para ajudar a pagar os estudos e manter-se na capital, estava disposto a aceitar a oferta gremista. Mas, o destino propiciou-lhe outro caminho. Um dia, atravessando a Rua da Praia, teve seu nome chamado por um homem. Olhou para o lado e não o conheceu. Era Tarzan Numer, fanático torcedor colorado, com certa ingerência junto a direção do clube. Numer conhecia Heitor do Independente e sabia de seu enorme potencial com a bola. Ofereceu-lhe um contrato no Internacional e Heitor não pensou duas vezes. Waldemar ainda tentou dissuadi-lo, mas não conseguiu. O coração vermelho falava mais alto.
Inicialmente, Heitor jogou nos aspirantes, até porque tinha a conciliação estudo/futebol. Jogava esporadicamente no time principal. Até que chegou a temporada de 1957. O técnico Teté o promoveu ao time de cima, e como titular. Mas, mudou sua posição. Saiu da meia-esquerda e passou a atuar como centromédio. Verardi e Tati ou Verardi e Osvaldinho ou Verardi e Brito ou Verardi e Bruno. Mas Verardi era o cara.
Permaneceu no Internacional até o final de 1959, quando se formou em Odontologia e quis retornar a Passo Fundo. A direção colorada não queria de jeito nenhum. Fez inúmeras propostas para ele renovar contrato, afinal, tinha apenas 24 anos de idade. Também não adiantou o Grêmio tentar contratá-lo ou mesmo o Palmeiras ou o Botafogo. Verardi queria Passo Fundo para casar com sua noiva Marlusa. E, assim aconteceu.
Ao chegar à sua terra natal, um amigo,Plinio Rosseto, com quem havia jogado no Independente, convidou-o para jogar pelo 14 de Julho. Heitor aceitou, mas sem muitos compromissos. Jogou até 1964 e, finalmente, deixou os gramados. Tinha consultório dentário, era professor em colégios e na Faculdade de Odontologia na Universidade de Passo Fundo. E, ainda jogava futebol de salão. Foi campeão da cidade pelo Atlanta. Quando começaram a praticar futebol sete, lá foi Verardi jogar em vários times que o convidavam. Tinha enorme prazer com o futebol, fosse a modalidade que fosse. Quase sempre era campeão de torneios e competições que disputava. Foi um craque excepcional. Certamente o melhor jogador de futebol nascido em Passo Fundo em termos de técnica e categoria.
Gostava de contar histórias da bola. Algumas delas serão aqui reproduzidas. Em 1958, uma sexta-feira, antevéspera de um Grenal. Time concentrado. Os dirigentes rubros chamaram Verardi e comunicaram o falecimento de seu pai em Passo Fundo. Trouxeram-no de automóvel e o dispensaram por uma semana, em respeito ao seu luto. No sábado, após sepultar Seu Victório, Heitor ligou para clube e pediu para virem buscá-lo, pois queria jogar o Grenal. Entrou em campo e jogou demais. A partida estava no segundo tempo e o goleiro colorado La Paz mandou um balão para o campo adversário. A bola encontrou Bodinho que, do bico da área, mandou um sem-pulo direto para as redes. Todos os jogadores foram abraçar Heitor, que caiu num choro convulsivo. Os torcedores assistindo àquela emocionante cena também choraram. Esta passagem está contada no livro História dos Grenais.
Outra história que o fazia rir muito era a de um jogo entre Juventude e Internacional em Caxias do Sul. Primeiro tempo e o time da casa vencia por 1 a 0. O técnico Teté, possesso da vida, entrou no vestiário e começou a xingar os jogadores: “seus merdas. O que estão fazendo? Só um de vocês ganha mais que todo o time deles, e o que estão fazendo? Vão pra puta que pariu!” Disse mais nada. Virou as costas e deixou os jogadores ali, perplexos. Foi então que Bodinho e Chinesinho trocaram ideias com os demais jogadores. Chinesinho disse: “Verardi, tu marca o Irajá (jogador do Juventude) e o Zangão fica na sobra. Vamos marcar mais em cima e eu sairei da esquerda para jogar centralizado. Joguem a bola em mim.” Segundo tempo e o Internacional virou o placar para 2 a 1. No dia seguinte, a manchete do jornal Folha da Tarde trazia em letras garrafais: “O Marechal da Vitória (referindo-se a Teté) muda o esquema e o Internacional vira o jogo.”
Outra. O Internacional recebeu, em 1958, o Botafogo do Rio de Janeiro. Jogo amistoso. O Botafogo tinha Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha e outros grandes craques. O Estádio dos Eucaliptos lotado e um jogo inesquecível. Ao final, empate por 4 a 4. Os jornais de Porto Alegre se ocuparam em falar do jogaço. E, em todos eles, com pequenas variações no texto, dizia: “Quem veio ver Didi, viu Verardi.”Isso eu li em minhas pesquisas. Ninguém me contou, nem Verardi, que era humilde suficiente para não tocar no assunto.
Honras
- Integrante da Seleção de Todos os Tempos do 14 de Julho como meia
- Integrante da Seleção de Todos os Tempos do Independente como meia
- Integrante do Hall da Fama do Futebol de Passo Fundo
Carreira como jogador
Ano | Equipe | J | G | CA | CV |
---|---|---|---|---|---|
1951 | Independente | ND | ND | ND | ND |
1952 | Independente | ND | ND | ND | ND |
1953 | Independente | ND | ND | ND | ND |
1954 | Independente | ND | ND | ND | ND |
1960 | 14 de Julho | 15 | 2 | 0 | 0 |
1961 | 14 de Julho | 17 | 1 | 0 | 0 |
1962 | 14 de Julho | 11 | 1 | 0 | 0 |
1963 | 14 de Julho | 10 | 0 | 0 | 0 |
1964 | 14 de Julho | 2 | 0 | 0 | 0 |
Total | 55 | 4 | 0 | 0 |
*Os jogos do Independente estão sendo computados e as estatísticas devem aparecer em breve.
Carreira como técnico
Ano | Equipe | J | V | E | D | A |
---|---|---|---|---|---|---|
1961 | 14 de Julho | 8 | 2 | 3 | 3 | 44% |
1964 | 14 de Julho | 4 | 3 | 1 | 0 | 88% |
1967 | 14 de Julho | 25 | 9 | 9 | 7 | 54% |
Total | 37 | 14 | 13 | 10 | 55% |