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O Campeonato Citadino de Passo Fundo foi a principal competição de clubes já disputada na cidade. Foram 43 edições entre 1925 e 1978, incluindo as épocas amadora e profissional. 14 de Julho e Gaúcho são os maiores campeões, com 16 títulos cada. | O Campeonato Citadino de Passo Fundo foi a principal competição de clubes já disputada na cidade. Foram 43 edições entre 1925 e 1978, incluindo as épocas amadora e profissional. 14 de Julho e Gaúcho são os maiores campeões, com 16 títulos cada. | ||
O futebol em Passo Fundo | == O futebol em Passo Fundo == | ||
O futebol começou a ser praticado em Passo Fundo na primeira metade da década de 1910. O registro dos primeiros clubes são de 1913, com o Foot Ball Club e o União. De durações efêmeras, muito pouco material histórico sobre os dois clubes sobreviveu. Os próximos registros de um clube em atividade no município são de 1917, com o Serrano sendo saudado nas páginas do jornal A Voz da Serra “por trazer de volta o ‘foot-ball’ a Passo Fundo”. Sem adversários na cidade, e com a dificuldade dos deslocamentos no início do século 20 na região, a saída para se manter em atividade era jogar “contra si mesmo”, ou seja, com a “equipe A” enfrentando a “equipe B”. | O futebol começou a ser praticado em Passo Fundo na primeira metade da década de 1910. O registro dos primeiros clubes são de 1913, com o Foot Ball Club e o União. De durações efêmeras, muito pouco material histórico sobre os dois clubes sobreviveu. Os próximos registros de um clube em atividade no município são de 1917, com o Serrano sendo saudado nas páginas do jornal A Voz da Serra “por trazer de volta o ‘foot-ball’ a Passo Fundo”. Sem adversários na cidade, e com a dificuldade dos deslocamentos no início do século 20 na região, a saída para se manter em atividade era jogar “contra si mesmo”, ou seja, com a “equipe A” enfrentando a “equipe B”. | ||
Gaúcho e Grêmio, o primeiro clássico | == Gaúcho e Grêmio, o primeiro clássico == | ||
Com poucos meses de diferença, Passo Fundo via nascer dois clubes, o Gaúcho, em maio, e o Grêmio, em julho. Então, no domingo 21 de julho de 1918, os alviverdes do Gaúcho entravam em campo para enfrentar os alvirrubros do Grêmio, naquele que pode ter sido o primeiro confronto entre dois times da cidade. O Grêmio se saiu melhor e venceu por 2 a 1. Os dois clubes voltariam a se enfrentar mais vezes, como nos torneios amistosos Estatueta Cine Coliseu, Medalha de Ouro Café Avenida e Medalha de Prata Livraria A Minerva. Três anos depois, em 1921, o Grêmio chegaria ao fim, dando origem ao 14 de Julho e àquela que ainda é a maior rivalidade do futebol passo-fundense, o clássico "Ga-Quá". | Com poucos meses de diferença, Passo Fundo via nascer dois clubes, o Gaúcho, em maio, e o Grêmio, em julho. Então, no domingo 21 de julho de 1918, os alviverdes do Gaúcho entravam em campo para enfrentar os alvirrubros do Grêmio, naquele que pode ter sido o primeiro confronto entre dois times da cidade. O Grêmio se saiu melhor e venceu por 2 a 1. Os dois clubes voltariam a se enfrentar mais vezes, como nos torneios amistosos Estatueta Cine Coliseu, Medalha de Ouro Café Avenida e Medalha de Prata Livraria A Minerva. Três anos depois, em 1921, o Grêmio chegaria ao fim, dando origem ao 14 de Julho e àquela que ainda é a maior rivalidade do futebol passo-fundense, o clássico "Ga-Quá". | ||
Sem representação no Campeonato Gaúcho | == Sem representação no Campeonato Gaúcho == | ||
Enquanto isso, em 1919, começava a ser disputado o primeiro campeonato estadual. Pela inclusão de clubes de todo o Rio Grande do Sul, o Campeonato Gaúcho manteve até 1960 a disputa de fases preliminares, em que participavam os campeões de cada município, divididos em eliminatórias regionais e zonais. Somente o campeão de cada zona se classificava para as finais do campeonato. Ou seja, para participar do campeonato estadual, era preciso primeiro ser o melhor da cidade. | Enquanto isso, em 1919, começava a ser disputado o primeiro campeonato estadual. Pela inclusão de clubes de todo o Rio Grande do Sul, o Campeonato Gaúcho manteve até 1960 a disputa de fases preliminares, em que participavam os campeões de cada município, divididos em eliminatórias regionais e zonais. Somente o campeão de cada zona se classificava para as finais do campeonato. Ou seja, para participar do campeonato estadual, era preciso primeiro ser o melhor da cidade. | ||
Entre 1919 e 1922, Passo Fundo não indicou representantes para o Campeonato Gaúcho. A competição parou em 1923 e 1924 devido à Revolução Federalista. Em 1925, pela primeira vez, a cidade faria sua estreia na competição, com o 14 de Julho. Foi o único título disputado antes da criação da primeira associação reunindo clubes de futebol na cidade. | Entre 1919 e 1922, Passo Fundo não indicou representantes para o Campeonato Gaúcho. A competição parou em 1923 e 1924 devido à Revolução Federalista. Em 1925, pela primeira vez, a cidade faria sua estreia na competição, com o 14 de Julho. Foi o único título disputado antes da criação da primeira associação reunindo clubes de futebol na cidade. | ||
A primeira associação | == A primeira associação == | ||
A Associação Passo-Fundense de Desportos foi fundada em 28 de junho de 1926 pelos três clubes da cidade: Gaúcho, 14 de Julho e Rio Grandense, time criado um ano antes pelos ferroviários. A primeira diretoria era formada por João Junqueira da Rocha, presidente; Alberto Morsch, vice-presidente; José Escobar, 1º secretário; Alfredo Loureiro, 2º secretário; e Franklin Silva, tesoureiro. Em 11 de agosto, a APFD foi reconhecida pela Federação Rio-Grandense de Desportos como afiliada e entidade apta a indicar seu campeão como representante local no Campeonato Gaúcho. | A Associação Passo-Fundense de Desportos foi fundada em 28 de junho de 1926 pelos três clubes da cidade: Gaúcho, 14 de Julho e Rio Grandense, time criado um ano antes pelos ferroviários. A primeira diretoria era formada por João Junqueira da Rocha, presidente; Alberto Morsch, vice-presidente; José Escobar, 1º secretário; Alfredo Loureiro, 2º secretário; e Franklin Silva, tesoureiro. Em 11 de agosto, a APFD foi reconhecida pela Federação Rio-Grandense de Desportos como afiliada e entidade apta a indicar seu campeão como representante local no Campeonato Gaúcho. | ||
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O Campeonato Citadino seria finalmente interrompido pela falta de filiados. Em 1929, todos os clubes estavam fechados, reflexo da crise econômica da época. | O Campeonato Citadino seria finalmente interrompido pela falta de filiados. Em 1929, todos os clubes estavam fechados, reflexo da crise econômica da época. | ||
Campeões sem jogar | == Campeões sem jogar == | ||
Somente em 1930 o futebol voltou aos gramados de Passo Fundo. Mas apenas com o 14 de Julho. O clube abriu a temporada no dia 16 de março e pôde ser considerado campeão da cidade sem entrar em campo, enquanto o Gaúcho ainda procurava se reerguer dos anos sem jogar bola. Como a FRGD não conseguiu organizar o campeonato estadual, o 14 se inscreveu na Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres (Faget), que promoveu a competição nos mesmos formatos. A Faget era uma organização dissidente do futebol gaúcho. | Somente em 1930 o futebol voltou aos gramados de Passo Fundo. Mas apenas com o 14 de Julho. O clube abriu a temporada no dia 16 de março e pôde ser considerado campeão da cidade sem entrar em campo, enquanto o Gaúcho ainda procurava se reerguer dos anos sem jogar bola. Como a FRGD não conseguiu organizar o campeonato estadual, o 14 se inscreveu na Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres (Faget), que promoveu a competição nos mesmos formatos. A Faget era uma organização dissidente do futebol gaúcho. | ||
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Em 1936, surgia uma nova força, o Cruzeiro, equipe formada exclusivamente por integrantes da Brigada Militar na cidade. Por duas vezes, o clube também foi declarado campeão sem jogar, em sessões administrativas da FRGD em Porto Alegre. Em ambas as oportunidades, parou nas fases regionais, perdendo para o Riograndense de Santa Maria. O Cruzeiro ficou quase três anos sem perder, desde a fundação, em 1931, até 1934, quando acabou surpreendido pelos carazinhenses do Veterano por 9 a 3 em um amistoso. O Cruzeiro pediu revanche e acabou devolvendo a goleada: 8 a 0 e em Carazinho. O time dos militares só não chegou ao tricampeonato municipal porque em 1938 foi obrigado a pedir seu afastamento da Federação devido à criação da Liga de Esportes da Brigada Militar. Sem clubes em atividade, ninguém representou Passo Fundo no Campeonato Gaúcho. | Em 1936, surgia uma nova força, o Cruzeiro, equipe formada exclusivamente por integrantes da Brigada Militar na cidade. Por duas vezes, o clube também foi declarado campeão sem jogar, em sessões administrativas da FRGD em Porto Alegre. Em ambas as oportunidades, parou nas fases regionais, perdendo para o Riograndense de Santa Maria. O Cruzeiro ficou quase três anos sem perder, desde a fundação, em 1931, até 1934, quando acabou surpreendido pelos carazinhenses do Veterano por 9 a 3 em um amistoso. O Cruzeiro pediu revanche e acabou devolvendo a goleada: 8 a 0 e em Carazinho. O time dos militares só não chegou ao tricampeonato municipal porque em 1938 foi obrigado a pedir seu afastamento da Federação devido à criação da Liga de Esportes da Brigada Militar. Sem clubes em atividade, ninguém representou Passo Fundo no Campeonato Gaúcho. | ||
Os primeiros passos pela liga | == Os primeiros passos pela liga == | ||
Ainda em 1936, o advogado e então professor do Instituto Gymnasial (hoje Instituto Educacional) Celso Fiori e o diretor esportivo da escola, Sabino Santos, tentaram criar a Liga Athlética Passofundense, que administraria competições de “tennis, foot-ball, volley-ball e basket”, conforme a grafia da época. Não deu certo. Mas as boas atuações do Cruzeiro nas fases regionais do campeonato estadual despertaram o interesse por se saber novamente quem era o melhor time da cidade no futebol. | Ainda em 1936, o advogado e então professor do Instituto Gymnasial (hoje Instituto Educacional) Celso Fiori e o diretor esportivo da escola, Sabino Santos, tentaram criar a Liga Athlética Passofundense, que administraria competições de “tennis, foot-ball, volley-ball e basket”, conforme a grafia da época. Não deu certo. Mas as boas atuações do Cruzeiro nas fases regionais do campeonato estadual despertaram o interesse por se saber novamente quem era o melhor time da cidade no futebol. | ||
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A rivalidade voltaria com força total no dia 24 de dezembro daquele mesmo ano. O 14 de Julho, outra vez em atividade, e empolgado com a campanha do rival, desafiou o Gaúcho. Queria mostrar que mandava na cidade mesmo depois de anos parado. Perdeu por 4 a 1. | A rivalidade voltaria com força total no dia 24 de dezembro daquele mesmo ano. O 14 de Julho, outra vez em atividade, e empolgado com a campanha do rival, desafiou o Gaúcho. Queria mostrar que mandava na cidade mesmo depois de anos parado. Perdeu por 4 a 1. | ||
O renascimento do futebol local | == O renascimento do futebol local == | ||
Depois do jogo no final de 1939 entre os dois eternos rivais, a criação da liga era agora questão de tempo. De correr contra o tempo. Se Passo Fundo quisesse ter um representante no Campeonato Gaúcho de 1940, precisaria fundar uma associação com os clubes locais até o dia 30 de abril. De acordo com os estatutos da FRGD, era essa a data final para o registro de jogadores. Caso houvesse mais de dois clubes numa mesma cidade, era obrigatório que se formasse uma liga ou associação para dirigir o campeonato local, sendo o representante definido pelo resultado do campeonato municipal, que deveria acontecer até setembro. Com a confirmação da inscrição do Gaúcho, Rio Grandense e 14 de Julho, obrigou-se a criação de uma liga. | Depois do jogo no final de 1939 entre os dois eternos rivais, a criação da liga era agora questão de tempo. De correr contra o tempo. Se Passo Fundo quisesse ter um representante no Campeonato Gaúcho de 1940, precisaria fundar uma associação com os clubes locais até o dia 30 de abril. De acordo com os estatutos da FRGD, era essa a data final para o registro de jogadores. Caso houvesse mais de dois clubes numa mesma cidade, era obrigatório que se formasse uma liga ou associação para dirigir o campeonato local, sendo o representante definido pelo resultado do campeonato municipal, que deveria acontecer até setembro. Com a confirmação da inscrição do Gaúcho, Rio Grandense e 14 de Julho, obrigou-se a criação de uma liga. | ||
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Para a sede da Liga foi alugada uma sala na Rua Moron, no centro. O prefeito Arthur Ferreira Filho ofereceu um auxílio para a instalação da entidade, contribuindo com um conto de réis. No dia 10 de junho eram eleitos os primeiros juízes da LPD: Dorival Godoy, Honorino Malheiros, John Mac Ginity, Marcolino Bittencourt (Rádio), Harry Becker, Saint Clair Dalfollo, João Bauer Nogueira, Adolfo Stein e Olavo Hahn. | Para a sede da Liga foi alugada uma sala na Rua Moron, no centro. O prefeito Arthur Ferreira Filho ofereceu um auxílio para a instalação da entidade, contribuindo com um conto de réis. No dia 10 de junho eram eleitos os primeiros juízes da LPD: Dorival Godoy, Honorino Malheiros, John Mac Ginity, Marcolino Bittencourt (Rádio), Harry Becker, Saint Clair Dalfollo, João Bauer Nogueira, Adolfo Stein e Olavo Hahn. | ||
Celso Fiori, o primeiro presidente da Liga | == Celso Fiori, o primeiro presidente da Liga == | ||
Um dos grandes nomes do futebol passo-fundense, o advogado Celso da Cunha Fiori nasceu em 19 de julho de 1905, em Pelotas. Viveu alguns anos em Porto Alegre, onde foi jogador do extinto Fuss-Ball Club Porto Alegre, o primeiro clube da capital a jogar em Passo Fundo, em julho de 1926. No ano seguinte se transferiu para a cidade, onde foi professor de Língua Portuguesa e Latim no Instituto Gymnasial. Em 1927 (e também em 1929 e 1939), entrou em campo pelo 14 na função de centromédio ou meia-direita. | Um dos grandes nomes do futebol passo-fundense, o advogado Celso da Cunha Fiori nasceu em 19 de julho de 1905, em Pelotas. Viveu alguns anos em Porto Alegre, onde foi jogador do extinto Fuss-Ball Club Porto Alegre, o primeiro clube da capital a jogar em Passo Fundo, em julho de 1926. No ano seguinte se transferiu para a cidade, onde foi professor de Língua Portuguesa e Latim no Instituto Gymnasial. Em 1927 (e também em 1929 e 1939), entrou em campo pelo 14 na função de centromédio ou meia-direita. | ||
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Fiori também ajudou a fundar o Grêmio Passo-Fundense de Letras e a Universidade de Passo Fundo, onde lecionou na faculdade de Direito. Empreendedor, participou do grupo que construiu o Turis Hotel e o antigo Cine-Teatro Pampa e trouxe a primeira repetidora de televisão para a cidade, a TV Piratini, entre outros pioneirismos. Ele morreu aos 85 anos, em 2 de outubro de 1990, em Passo Fundo. | Fiori também ajudou a fundar o Grêmio Passo-Fundense de Letras e a Universidade de Passo Fundo, onde lecionou na faculdade de Direito. Empreendedor, participou do grupo que construiu o Turis Hotel e o antigo Cine-Teatro Pampa e trouxe a primeira repetidora de televisão para a cidade, a TV Piratini, entre outros pioneirismos. Ele morreu aos 85 anos, em 2 de outubro de 1990, em Passo Fundo. | ||
A dinastia ferroviária | == A dinastia ferroviária == | ||
Ainda em 1940 a LPD romperia com a FRGD. A Federação escolheu Santa Maria como sede do jogo decisivo que valeria uma vaga na fase final do Campeonato Gaúcho entre o Rio Grandense, campeão local, e o Riograndense de Santa Maria. A Liga se recusou a jogar no centro do estado. Baseava seus argumentos no fato de o Gaúcho ter sido campeão regional em 1939 e que por isso o jogo decisivo deveria ser em Passo Fundo. O presidente da LPD, Celso Fiori, tentou convencer os dirigentes da Federação a rever a decisão. Nada feito. O Rio Grandense, que já havia despachado a Escola de Comércio de Carazinho na fase anterior, acabou desistindo, com o aval de todos os clubes da LPD, dando a vaga para o time de Santa Maria. Os clubes passo-fundenses também pediram desligamento da FRGD, criando uma tensão superada tempos depois. | Ainda em 1940 a LPD romperia com a FRGD. A Federação escolheu Santa Maria como sede do jogo decisivo que valeria uma vaga na fase final do Campeonato Gaúcho entre o Rio Grandense, campeão local, e o Riograndense de Santa Maria. A Liga se recusou a jogar no centro do estado. Baseava seus argumentos no fato de o Gaúcho ter sido campeão regional em 1939 e que por isso o jogo decisivo deveria ser em Passo Fundo. O presidente da LPD, Celso Fiori, tentou convencer os dirigentes da Federação a rever a decisão. Nada feito. O Rio Grandense, que já havia despachado a Escola de Comércio de Carazinho na fase anterior, acabou desistindo, com o aval de todos os clubes da LPD, dando a vaga para o time de Santa Maria. Os clubes passo-fundenses também pediram desligamento da FRGD, criando uma tensão superada tempos depois. | ||
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O título de 1942 precisou ser decidido em quatro jogos extras. Finalmente, o Rio Grandense venceu mais uma vez o 14 de Julho, desta vez por 2 a 0, gols de Jamegão e Marcondes. Em 1944, a conquista chegou de uma maneira menos nobre. Sem chances na competição, o Independente entregou os pontos do último jogo, garantindo mais uma vitória dos ferroviários. Nesses primeiros cinco anos, o Rio Grandense venceu 22 e empatou 4 dos seus 34 jogos (um aproveitamento de 71% dos pontos), marcando 107 gols, uma média superior a 3 por partida. O clube nunca mais conquistaria um campeonato da cidade. | O título de 1942 precisou ser decidido em quatro jogos extras. Finalmente, o Rio Grandense venceu mais uma vez o 14 de Julho, desta vez por 2 a 0, gols de Jamegão e Marcondes. Em 1944, a conquista chegou de uma maneira menos nobre. Sem chances na competição, o Independente entregou os pontos do último jogo, garantindo mais uma vitória dos ferroviários. Nesses primeiros cinco anos, o Rio Grandense venceu 22 e empatou 4 dos seus 34 jogos (um aproveitamento de 71% dos pontos), marcando 107 gols, uma média superior a 3 por partida. O clube nunca mais conquistaria um campeonato da cidade. | ||
A vez dos pequenos | == A vez dos pequenos == | ||
Com o futebol ganhando cada vez mais espaço na vida social dos passo-fundenses, em 1942 era criada a Liga do Futebol Menor. Na noite do dia 23 de setembro, numa reunião no Hotel Avenida, representantes dos quatro clubes da cidade considerados “menores” (Avenida, Cruzeiro, União e Independente - equipe do colégio Conceição) fundaram sua associação. | Com o futebol ganhando cada vez mais espaço na vida social dos passo-fundenses, em 1942 era criada a Liga do Futebol Menor. Na noite do dia 23 de setembro, numa reunião no Hotel Avenida, representantes dos quatro clubes da cidade considerados “menores” (Avenida, Cruzeiro, União e Independente - equipe do colégio Conceição) fundaram sua associação. | ||
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Em 1951, alguns clubes tentaram se filiar à Liga, mas foram impedidos. O parágrafo único do artigo oitavo dos estatutos da LPF dizia que “a Liga somente poderá possuir como filiados, na categoria principal, e na de aspirantes, o mínimo de três e o máximo de cinco clubes, os quais poderão ter seus departamentos juvenis; na categoria de varzeanos, o número será ilimitado". Naquela época, faziam parte da Liga 14 de Julho, Atlético, Gaúcho, Independente e Rio Grandense. | Em 1951, alguns clubes tentaram se filiar à Liga, mas foram impedidos. O parágrafo único do artigo oitavo dos estatutos da LPF dizia que “a Liga somente poderá possuir como filiados, na categoria principal, e na de aspirantes, o mínimo de três e o máximo de cinco clubes, os quais poderão ter seus departamentos juvenis; na categoria de varzeanos, o número será ilimitado". Naquela época, faziam parte da Liga 14 de Julho, Atlético, Gaúcho, Independente e Rio Grandense. | ||
O fim do jejum alviverde | == O fim do jejum alviverde == | ||
Sem vencer um Citadino dentro de campo desde 1928, o Gaúcho decidiu investir grande para sair da fila. Ainda assim, não foi fácil. O mítico time do Rio Grandense era praticamente imbatível nos momentos decisivos do campeonato durante cinco anos. O título viria em 1947, não fosse uma confusão administrativa do alviverde. | Sem vencer um Citadino dentro de campo desde 1928, o Gaúcho decidiu investir grande para sair da fila. Ainda assim, não foi fácil. O mítico time do Rio Grandense era praticamente imbatível nos momentos decisivos do campeonato durante cinco anos. O título viria em 1947, não fosse uma confusão administrativa do alviverde. | ||
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A resposta veio com o tricampeonato em 1948, 1949 e 1950. Em 1949, o time foi quase perfeito, fazendo duas das três maiores goleadas da história da competição: 8 a 0 no Rio Grandense e 7 a 0 no Independente, além de uma saborosa vitória sobre o 14 de Julho por 2 a 0 na rodada final. | A resposta veio com o tricampeonato em 1948, 1949 e 1950. Em 1949, o time foi quase perfeito, fazendo duas das três maiores goleadas da história da competição: 8 a 0 no Rio Grandense e 7 a 0 no Independente, além de uma saborosa vitória sobre o 14 de Julho por 2 a 0 na rodada final. | ||
A Junta Disciplinar | == A Junta Disciplinar == | ||
A criação da Junta Disciplinar Desportiva da Liga Passo-Fundense de Futebol foi determinada pela FRGF com base no Código Brasileiro de Futebol para aplicação dos regulamentos e, principalmente, punição de jogadores violentos e desleais. Os “olheiros” da Junta Disciplinar acompanhariam cada jogo do Campeonato Citadino, apresentando seus relatórios ao tribunal. Eles seriam responsáveis por apontar todas as faltas da partida, mesmo aquelas não marcadas pelo árbitro. Os relatórios seriam apresentados aos juízes, que em reuniões semanais tomariam as decisões. Os atletas denunciados teriam direito à defesa. A primeira Junta tinha quatro juízes da comarca de Passo Fundo, que não estavam ligados a nenhum dos clubes. | A criação da Junta Disciplinar Desportiva da Liga Passo-Fundense de Futebol foi determinada pela FRGF com base no Código Brasileiro de Futebol para aplicação dos regulamentos e, principalmente, punição de jogadores violentos e desleais. Os “olheiros” da Junta Disciplinar acompanhariam cada jogo do Campeonato Citadino, apresentando seus relatórios ao tribunal. Eles seriam responsáveis por apontar todas as faltas da partida, mesmo aquelas não marcadas pelo árbitro. Os relatórios seriam apresentados aos juízes, que em reuniões semanais tomariam as decisões. Os atletas denunciados teriam direito à defesa. A primeira Junta tinha quatro juízes da comarca de Passo Fundo, que não estavam ligados a nenhum dos clubes. | ||
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A Junta durou seis dias. Em uma reunião da Liga, os clubes decidiram indicar Pedro Avancini para a presidência da JDD, porque Kramer não teria aceitado o cargo. Depois de muita confusão, ofícios para a Federação e mal entendidos, Oscar Kramer disse que não poderia mais ser presidente porque agora, para a FRGF, quem mandava era Avancini. Os demais integrantes da Junta saíram com Kramer, enquanto Avancini não quis assumir porque disse que isso seria uma descortesia. | A Junta durou seis dias. Em uma reunião da Liga, os clubes decidiram indicar Pedro Avancini para a presidência da JDD, porque Kramer não teria aceitado o cargo. Depois de muita confusão, ofícios para a Federação e mal entendidos, Oscar Kramer disse que não poderia mais ser presidente porque agora, para a FRGF, quem mandava era Avancini. Os demais integrantes da Junta saíram com Kramer, enquanto Avancini não quis assumir porque disse que isso seria uma descortesia. | ||
O único título no último minuto | == O único título no último minuto == | ||
Menos de dois anos. Foi o tempo que o Atlético precisou esperar desde a fundação para ganhar seu primeiro, e último, título do Citadino. Criado por jogadores e torcedores dissidentes do 14 de Julho e do Gaúcho em 1949, o Atlético chegou ao auge em 1951. | Menos de dois anos. Foi o tempo que o Atlético precisou esperar desde a fundação para ganhar seu primeiro, e último, título do Citadino. Criado por jogadores e torcedores dissidentes do 14 de Julho e do Gaúcho em 1949, o Atlético chegou ao auge em 1951. | ||
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E, menos de dois anos depois, o Atlético era obrigado a fechar as portas por falta de dinheiro. | E, menos de dois anos depois, o Atlético era obrigado a fechar as portas por falta de dinheiro. | ||
O fim da época dourada | == O fim da época dourada == | ||
Em 1952 o Campeonato Citadino começou a se esvaziar. Com o 14 de Julho profissionalizado, disputando o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o clube foi representado pela sua equipe de aspirantes. Depois de ser goleado duas vezes, os dirigentes do 14 decidiram abandonar a competição. O Gaúcho também acabou desistindo no segundo turno. | Em 1952 o Campeonato Citadino começou a se esvaziar. Com o 14 de Julho profissionalizado, disputando o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o clube foi representado pela sua equipe de aspirantes. Depois de ser goleado duas vezes, os dirigentes do 14 decidiram abandonar a competição. O Gaúcho também acabou desistindo no segundo turno. | ||
Finalmente, em 1953, o Citadino que já não tinha o 14 de Julho, ainda viu o Atlético encerrar suas atividades durante a competição. Na final, a goleada do Independente por 4 a 1 sobre o Gaúcho, com três gols de Plinio Rosseto e um de Pepino, foi o último jogo daquela que pode ser considerada a época de ouro do Campeonato Citadino de Passo Fundo. | Finalmente, em 1953, o Citadino que já não tinha o 14 de Julho, ainda viu o Atlético encerrar suas atividades durante a competição. Na final, a goleada do Independente por 4 a 1 sobre o Gaúcho, com três gols de Plinio Rosseto e um de Pepino, foi o último jogo daquela que pode ser considerada a época de ouro do Campeonato Citadino de Passo Fundo. | ||
A dinastia rubra | == A dinastia rubra == | ||
Embora o Campeonato Citadino continuasse em sua categoria amadora, com Independente e Rio Grandense na briga pelo título, e depois com a criação de outros times de bairros, passaram a valer mesmo os jogos entre 14 de Julho e Gaúcho. Os dois times, já profissionais, enfrentavam-se pela fase regional do Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão. Essas partidas também serviam para apontar o campeão da cidade. | Embora o Campeonato Citadino continuasse em sua categoria amadora, com Independente e Rio Grandense na briga pelo título, e depois com a criação de outros times de bairros, passaram a valer mesmo os jogos entre 14 de Julho e Gaúcho. Os dois times, já profissionais, enfrentavam-se pela fase regional do Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão. Essas partidas também serviam para apontar o campeão da cidade. | ||
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O Gaúcho bem que tentou quebrar a hegemonia rubra em 1959 e forçou uma “superdecisão” com dois jogos extras. Em vão. Outra festa do 14, depois de golear o tradicional adversário por 5 a 2 e 5 a 1. | O Gaúcho bem que tentou quebrar a hegemonia rubra em 1959 e forçou uma “superdecisão” com dois jogos extras. Em vão. Outra festa do 14, depois de golear o tradicional adversário por 5 a 2 e 5 a 1. | ||
A dinastia alviverde | == A dinastia alviverde == | ||
Cansado de perder, o Gaúcho se reforçou e conseguiu acabar com a rotina rubra de levantar a taça do Citadino. Venceu a edição de 1961 com uma festa inesquecível. Depois de ganhar a decisão no Estádio Celso Fiori, jogadores e torcedores resolveram comemorar com o patrono Wolmar Salton na casa dele, que ficava próximo ao estádio. Alguns torcedores chegaram com fogos de artifício para animar ainda mais a festa. Foi quando a esposa de Salton, dona Irma, pediu que os foguetes não fossem usados, para que “se respeitasse a dor dos derrotados”. | Cansado de perder, o Gaúcho se reforçou e conseguiu acabar com a rotina rubra de levantar a taça do Citadino. Venceu a edição de 1961 com uma festa inesquecível. Depois de ganhar a decisão no Estádio Celso Fiori, jogadores e torcedores resolveram comemorar com o patrono Wolmar Salton na casa dele, que ficava próximo ao estádio. Alguns torcedores chegaram com fogos de artifício para animar ainda mais a festa. Foi quando a esposa de Salton, dona Irma, pediu que os foguetes não fossem usados, para que “se respeitasse a dor dos derrotados”. | ||
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Em 1966, dois jogos épicos. Em ambos o Gaúcho marcou primeiro, sofreu a virada, mas passou novamente à frente para vencer por 3 a 2. Neste ano o alviverde ganhou o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o que lhe garantiu os títulos de 1967 e 1968 mesmo sem jogar, já que era o único da cidade na divisão principal. Em 1968 foi a vez do 14 de Julho vencer a “Segundona”. No ano seguinte, quando os dois se enfrentaram pela primeira vez pela 1ª Divisão, o Gaúcho perdeu o título porque se negou a entrar em campo para um jogo extra, alegando dificuldades para compor o time (o intervalo entre seus dois últimos jogos pelo Gauchão havia sido de dois meses) e acabou vendo o 14 vencer por decisão da Junta Disciplinar da LPF. O título foi recuperado no ano seguinte. | Em 1966, dois jogos épicos. Em ambos o Gaúcho marcou primeiro, sofreu a virada, mas passou novamente à frente para vencer por 3 a 2. Neste ano o alviverde ganhou o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o que lhe garantiu os títulos de 1967 e 1968 mesmo sem jogar, já que era o único da cidade na divisão principal. Em 1968 foi a vez do 14 de Julho vencer a “Segundona”. No ano seguinte, quando os dois se enfrentaram pela primeira vez pela 1ª Divisão, o Gaúcho perdeu o título porque se negou a entrar em campo para um jogo extra, alegando dificuldades para compor o time (o intervalo entre seus dois últimos jogos pelo Gauchão havia sido de dois meses) e acabou vendo o 14 vencer por decisão da Junta Disciplinar da LPF. O título foi recuperado no ano seguinte. | ||
Em busca de dinheiro | == Em busca de dinheiro == | ||
Oito anos depois, no final de 1978, Gaúcho e 14 de Julho voltaram a se enfrentar pelo título citadino. Desta vez a competição não foi patrocinada pela Liga, mas pelos clubes, que decidiram marcar duas partidas para ver quem era o melhor (e também para tentar arrecadar dinheiro para manter os times em atividade). Os jogos não atraíram um grande público. O 14 venceu o primeiro clássico no Estádio Vermelhão da Serra por 2 a 0 e garantiu o empate por 1 a 1 no Estádio Wolmar Salton, naquele que foi o último título citadino do futebol passo-fundense. | Oito anos depois, no final de 1978, Gaúcho e 14 de Julho voltaram a se enfrentar pelo título citadino. Desta vez a competição não foi patrocinada pela Liga, mas pelos clubes, que decidiram marcar duas partidas para ver quem era o melhor (e também para tentar arrecadar dinheiro para manter os times em atividade). Os jogos não atraíram um grande público. O 14 venceu o primeiro clássico no Estádio Vermelhão da Serra por 2 a 0 e garantiu o empate por 1 a 1 no Estádio Wolmar Salton, naquele que foi o último título citadino do futebol passo-fundense. | ||