Campeonato Citadino
O Campeonato Citadino de Passo Fundo foi a principal competição de clubes já disputada na cidade. Foram 43 edições entre 1925 e 1978, incluindo as épocas amadora e profissional. 14 de Julho e Gaúcho são os maiores campeões, com 16 títulos cada.
O início
O futebol começou a ser praticado em Passo Fundo, "oficialmente", a partir de 1913, com a fundação do primeiro clube da cidade, o União Sport-Club. Sem adversários locais, e com a dificuldade dos deslocamentos no início do século 20 na região, a saída para se manter em atividade era jogar “contra si mesmo”, ou seja, com a “equipe A” enfrentando a “equipe B”.
A primeira rivalidade surgiria apenas em 1918, com a fundação do Gaúcho, em maio, e do Grêmio em julho. O domingo 21 de julho de 1918 marca, pelas informação disponíveis até hoje, o primeiro confronto entre dois clubes da cidade. O Grêmio se saiu melhor e venceu por 2 a 1. Os dois voltariam a se enfrentar mais vezes nos amistosos valendo algum prêmio, como a Estatueta Cine Coliseu, Medalha de Ouro Café Avenida e Medalha de Prata Livraria A Minerva. Já havia provocação entre as torcidas e a rivalidade para se saber quem era "o melhor", mas nunca se usou a expressão "campeonato municipal" ou "campeão da cidade".
Três anos depois, em 1921, o Grêmio chegaria ao fim, dando origem ao 14 de Julho e àquela que ainda é a maior rivalidade do futebol passo-fundense, o clássico "Ga-Quá".
Os primeiros anos do Campeonato Gaúcho
Enquanto isso, em 1919, começava a ser disputado o primeiro campeonato estadual. Pela inclusão de clubes de todo o Rio Grande do Sul, o Campeonato Gaúcho manteve até 1960 a disputa de fases preliminares, em que participavam os campeões de cada município, divididos em eliminatórias regionais e zonais. Somente o campeão de cada zona se classificava para as finais do campeonato. Ou seja, para jogar o campeonato estadual, era preciso primeiro ser o melhor da cidade.
Entre 1919 e 1922, Passo Fundo não indicou representantes para o Campeonato Gaúcho. A competição parou em 1923 e 1924 devido à Revolução Federalista. Em 1925, pela primeira vez, a cidade faria sua estreia na competição, com o 14 de Julho caindo logo na primeira fase da 5ª Região da Zona Serra, ao ser derrotado por 1 a 0 pelo Guarany de Cruz Alta em um jogo extra.
A primeira associação
A Associação Passo-Fundense de Desportos foi fundada em 28 de junho de 1926 pelos então três clubes em atividade na cidade: Gaúcho, 14 de Julho e Rio Grandense (criado um ano antes pelos ferroviários). Em 11 de agosto, a APFD foi reconhecida pela Federação Rio-Grandense de Desportos como afiliada e entidade apta a indicar seu campeão como representante local no Campeonato Gaúcho.
O primeiro campeonato da APFD teve início cerca de três meses depois. E foi emocionante. O Gaúcho precisava vencer sua última partida para não ver o 14 de Julho levantar a taça por antecipação. O alviverde ganhou do Rio Grandense e forçou a realização de um jogo extra, onde goleou os rivais colorados por 4 a 1. Campeão citadino, o Gaúcho estreava no campeonato estadual, sendo eliminado na decisão da Zona da Serra.
A Associação Passo-Fundense de Desportos entraria em decadência no ano seguinte, com a desfiliação do 14 de Julho e a desistência do Rio Grandense da competição municipal. Para ter um jogo valendo pelo título, acabou-se por convidar o América de Carazinho. Apenas uma formalidade. O Gaúcho venceu os visitantes por 9 a 1.
Em 1928, ainda com o 14 de Julho fora da APFD, convidou-se novamente o América, que se juntaria a Gaúcho e Rio Grandense. Mas o campeonato deste ano não chegou ao fim. Em um jogo marcado para o dia 29 de agosto, o time do Rio Grandense foi surpreendido ao chegar para a partida que deveria acontecer na Cancha do Gaúcho e ninguém apareceu, incluindo os árbitros e os representante da APFD. E assim o Rio Grandense decidiu também se desfiliar. O Gaúcho acabaria levantando sua terceira taça.
O Campeonato Citadino seria finalmente interrompido pela falta de filiados. Em 1929, todos os clubes estavam fechados, reflexo da crise econômica da época.
Campeões sem jogar
Somente em 1930 o futebol voltou aos gramados de Passo Fundo. Mas apenas com o 14 de Julho. O clube abriu a temporada no dia 16 de março e pôde ser considerado campeão da cidade sem entrar em campo, enquanto o Gaúcho ainda procurava se reerguer dos anos sem jogar bola. Como a FRGD não conseguiu organizar o campeonato estadual, o 14 se inscreveu na Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres (Faget), que promoveu a competição nos mesmos formatos.
Foi, até então, a melhor campanha de um passo-fundense no Campeonato Gaúcho. Na fase regional, os rubros passaram pelo Floresta e pelo Militar de Santa Maria, classificando-se para as finais em Porto Alegre. Devido à Revolução de 1930, a fase final foi disputada somente em março de 1931. O 14 perdeu para o Guarany de Alegrete por 3 a 2. Cinco dias depois, o jogo foi anulado ao se descobrirem irregularidades nas inscrições de jogadores dos dois clubes. Tanto o 14 de Julho quanto o Guarany foram eliminados do campeonato.
Depois de uma nova pausa, o futebol de Passo Fundo só voltaria a ter um campeão em 1935. O Rio Grandense, agora único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado campeão no dia 25 de junho por uma circular da FRGD que o apontava como representante local na 8ª Região da fase preliminar do Campeonato Gaúcho, ao lado do Riograndense de Cruz Alta, Glória de Carazinho e 19 de Outubro de Ijuí. O time não conseguiu passar às finais.
Em 1936, surgia uma nova força, o Cruzeiro, equipe formada exclusivamente por integrantes da Brigada Militar na cidade. Por duas vezes, o clube também foi declarado campeão sem jogar, em sessões administrativas da FRGD em Porto Alegre. Em ambas as oportunidades, parou nas fases regionais, perdendo para o Riograndense de Santa Maria.
O time dos militares só não chegou ao tricampeonato municipal porque em 1938 foi obrigado a pedir seu afastamento da Federação devido à criação da Liga de Esportes da Brigada Militar. Sem clubes em atividade, ninguém representou Passo Fundo no Campeonato Gaúcho.
Os primeiros passos pela Liga
Ainda em 1936, o advogado e então professor do Instituto Gymnasial (hoje Instituto Educacional) Celso Fiori e o diretor esportivo da escola, Sabino Santos, tentaram criar a Liga Athletica Passofundense, que administraria competições de “tennis, foot-ball, volley-ball e basket”, conforme a grafia da época. Não deu certo. Mas as boas atuações do Cruzeiro nas fases regionais do campeonato estadual despertaram o interesse por se saber novamente quem era o melhor time da cidade no futebol.
A ideia da criação de uma nova liga ganhou força durante todo o ano de 1938. A intenção era contar com a presença do Rio Grandense, do Samriban (formado por funcionários da Samrig, a Moinhos Rio-Grandenses, e bancários) e do Grêmio 3º Regimento de Cavalaria, nova denominação do Cruzeiro.
A liga não saiu, mas no início de 1939 a Casa Rádio, um dos principais estabelecimentos comerciais da época na cidade, decidiu organizar um campeonato extraoficialmente, que foi chamado de Campeonato da Cidade. Foram convidados o Gaúcho, o Rio Grandense e o 3º Regimento de Cavalaria.
A disputa deveria ser no sistema turno e returno e começar no final de fevereiro, mas acabou sendo adiada quando o Gaúcho criou um impasse quanto à inscrição de jogadores. Como os outros clubes não concordaram com os pedidos do time do Boqueirão, os alviverdes não disputaram a taça.
O título acabou decidido numa melhor de três partidas. Os militares do 3º Regimento levaram a melhor, vencendo os dois primeiros jogos, por 4 a 1 e 5 a 2, ficando com a taça.
Mas o Gaúcho, como único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado oficialmente campeão em 1939, mesmo sem jogar. No campeonato estadual, conseguiu a melhor participação de uma equipe passo-fundense, superando a façanha do 14 de Julho em 1930.
Nas fases preliminares despachou o Riograndense de Cruz Alta em uma epopeia de quatro jogos e o Riograndense de Santa Maria em pleno Estádio dos Eucaliptos. Na fase final, vitória épica por 4 a 3 sobre o Bagé e uma dolorosa derrota, de virada, por 2 a 1 para o Grêmio de Santana do Livramento no campo do 14 de Julho, o Estádio da Vila Cruzeiro. Esse jogo tirou os alviverdes da disputa do título estadual contra o Rio-Grandense de Rio Grande, mas garantiu a terceira colocação no Campeonato Gaúcho.
O renascimento do futebol local
Depois do jogo no final de 1939 entre os dois eternos rivais, a criação da liga era questão de tempo. De correr contra o tempo. Se Passo Fundo quisesse ter um representante no Campeonato Gaúcho de 1940, precisaria fundar uma associação com os clubes locais até o dia 30 de abril. De acordo com os estatutos da FRGD, era essa a data final para o registro de jogadores. Caso houvesse mais de dois clubes numa mesma cidade, era obrigatório que se formasse uma liga ou associação para dirigir o campeonato local, sendo o representante definido pelo resultado do campeonato municipal, que deveria acontecer até setembro. Com a confirmação da inscrição do Gaúcho, Rio Grandense e 14 de Julho, obrigou-se a criação de uma liga.
A reunião da criação da Liga Passo-Fundense de Desportos (LPD), posteriormente Liga Passo-Fundense de Futebol, foi no Clube Caixeiral, no dia 8 de maio, depois de negociada uma prorrogação no prazo de inscrições com a FRGD. A primeira diretoria da Liga teria como presidente eleito, no dia 12, Celso Fiori, do 14 de Julho. Para a sede da Liga foi alugada uma sala na Rua Moron, no centro. O prefeito Arthur Ferreira Filho ofereceu um auxílio para a instalação da entidade, contribuindo com um conto de réis.
A dinastia ferroviária
Ainda em 1940 a LPD romperia com a FRGD. A Federação escolheu Santa Maria como sede do jogo decisivo que valeria uma vaga na fase final do Campeonato Gaúcho entre o Rio Grandense, campeão local, e o Riograndense de Santa Maria. A Liga se recusou a jogar no centro do estado. Baseava seus argumentos no fato de o Gaúcho ter sido campeão regional em 1939 e que por isso o jogo decisivo deveria ser em Passo Fundo.
O presidente da LPD, Celso Fiori, tentou convencer os dirigentes da Federação a rever a decisão. Nada feito. O Rio Grandense, que já havia despachado a Escola de Comércio de Carazinho na fase anterior, acabou desistindo, com o aval de todos os clubes da LPD, dando a vaga para o time de Santa Maria. Os clubes passo-fundenses também pediram desligamento da FRGD, criando uma tensão superada tempos depois.
Os quatro títulos do Rio Grandense nos primeiros cinco anos mostram quem foi a primeira força a se destacar no Campeonato Citadino. O time dos ferroviários começou com um tricampeonato (1940, 1941, 1942), para ser vice em 1943 e novamente levantar a taça em 1944.
O primeiro campeonato chegou com uma vitória por 3 a 2 contra o Gaúcho. A segunda conquista, em 1941, foi mais difícil. Ao fim dos três turnos (houve um turno com jogos em campo neutro), 14 de Julho, Rio Grandense e Gaúcho estavam empatados com seis pontos. Na primeira rodada extra o Gaúcho foi goleado por 5 a 0 pelo Rio Grandense. Neste jogo o ferrinho marcou três vezes em cinco minutos, levando os jogadores do Gaúcho ao desespero. Nino, um dos atacantes do alviverde, acabou expulso. Revoltado, voltou ao campo para “elogiar” o árbitro José Bienachewsky. Pela atitude, Nino acabou suspenso por três partidas. O Gaúcho considerou a decisão um absurdo e desistiu do campeonato.
Como a Liga não mudou sua posição, o Gaúcho entrou com um pedido de desfiliação, exigindo o cancelamento da suspensão de Nino e a substituição de toda a diretoria da LPD. O 14 de Julho e o Rio Grandense não concordaram com o alviverde, que reiterou seu pedido e se considerou desligado da Liga. A LPD mais uma vez decidiu manter sua diretoria e a pena de Nino. O caso só foi ser resolvido quase dois meses depois, com uma nova diretoria eleita para acalmar os ânimos dos dirigentes do Gaúcho. Dentro de campo, o Rio Grandense despachou o 14 na final disputada em uma melhor de três jogos. Na partida decisiva, vitória por 6 a 0 e um show do atacante Celio Barbosa, autor de três gols.
O título de 1942 precisou ser decidido em quatro jogos extras. Finalmente, o Rio Grandense venceu mais uma vez o 14 de Julho, desta vez por 2 a 0, gols de Jamegão e Marcondes. Em 1944, a conquista chegou de uma maneira menos nobre. Sem chances na competição, o Independente entregou os pontos do último jogo, garantindo mais uma vitória dos ferroviários. Nesses primeiros cinco anos, o Rio Grandense venceu 22 e empatou 4 dos seus 34 jogos (um aproveitamento de 71% dos pontos), marcando 107 gols, uma média superior a 3 por partida. O clube nunca mais conquistaria um campeonato da cidade.
O fim do jejum alviverde
Sem vencer um Citadino dentro de campo desde 1928, o Gaúcho decidiu investir grande para sair da fila. Ainda assim, não foi fácil. O mítico time do Rio Grandense era praticamente imbatível nos momentos decisivos do campeonato durante cinco anos. O título viria em 1947, não fosse uma confusão administrativa do alviverde.
No jogo final, o time venceu o 14 de Julho por 2 a 1, mas os colorados protestaram alegando que o Gaúcho havia inscrito seis jogadores profissionais no time, infringindo o artigo 67º do Regulamento Geral da Federação Rio-Grandense de Futebol que limitava em cinco o número de jogadores não amadores permitidos. O Tribunal de Justiça Desportiva da FRGF deu a vitória ao 14 de Julho por 3 votos a 2. O Gaúcho apelou e acabou perdendo mais uma vez, agora por 5 votos a 0. Com a decisão, o 14 de Julho foi declarado campeão. O Gaúcho ainda propôs ao 14 a realização de uma nova partida, o que os rubros recusaram.
A resposta veio com o tricampeonato em 1948, 1949 e 1950. Em 1949, o time foi quase perfeito, fazendo duas das três maiores goleadas da história da competição: 8 a 0 no Rio Grandense e 7 a 0 no Independente, além de uma saborosa vitória sobre o 14 de Julho por 2 a 0 na rodada final.
O único título no último minuto
Menos de dois anos. Foi o tempo que o Atlético precisou esperar desde a fundação para ganhar seu primeiro, e último, título do Citadino. Criado por jogadores e torcedores dissidentes do 14 de Julho e do Gaúcho em 1949, o Atlético chegou ao auge em 1951.
Venceu os quatro jogos do primeiro turno do Citadino: 3 a 2 no 14 de Julho, 2 a 1 contra o Gaúcho, 2 a 0 sobre o Independente e 3 a 1 no Rio Grandense. A torcida já contava com o título ganho por antecipação, mas o segundo turno foi bem diferente. O Atlético perdeu para o 14 de Julho (0 a 2), venceu novamente o Gaúcho (2 a 1), mas voltou a perder, agora para o Independente (1 a 3). O time chegou à última rodada um ponto atrás do 14. Precisava vencer o Rio Grandense e torcer por um empate ou derrota dos colorados contra o Gaúcho. Deu tudo certo. Num jogo emocionante, o Atlético superou o Rio Grandense por 5 a 4, enquanto o 14 de julho ficou no empate (1 a 1).
A decisão foi para um jogo extra, disputado no Estádio Celso Fiori, a Baixada Rubra. Mesmo enfrentando a pressão da torcida dos donos da casa, o Atlético abriu o placar com Carlitos. Celio Barbosa empatou ainda no primeiro tempo. A partida foi para a prorrogação. Se houvesse novo empate, seria marcado outro jogo. Mas aos 14 minutos do segundo tempo da prorrogação outro gol de Carlitos garantiria a vitória do Atlético.
E, menos de dois anos depois, o Atlético era obrigado a fechar as portas por falta de dinheiro.
O fim da época dourada
Em 1952 o Campeonato Citadino começou a se esvaziar. Com o 14 de Julho profissionalizado, disputando o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o clube foi representado pela sua equipe de aspirantes. Depois de ser goleado duas vezes, os dirigentes do 14 decidiram abandonar a competição. O Gaúcho também acabou desistindo no segundo turno.
Finalmente, em 1953, o Citadino que já não tinha o 14 de Julho, ainda viu o Atlético encerrar suas atividades durante a competição. Na final, a goleada do Independente por 4 a 1 sobre o Gaúcho, com três gols de Plinio Rosseto e um de Pepino, foi o último jogo daquela que pode ser considerada a época de ouro do Campeonato Citadino de Passo Fundo.
A dinastia rubra
Embora o Campeonato Citadino continuasse em sua categoria amadora, com Independente e Rio Grandense na briga pelo título, e depois com a criação de outros times de bairros, passaram a valer mesmo os jogos entre 14 de Julho e Gaúcho. Os dois times, já profissionais, enfrentavam-se pela fase regional do Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão. Essas partidas também serviam para apontar o campeão da cidade.
Melhor estruturado, o 14 de Julho venceu oito títulos na sequência (dois deles de edições extras do campeonato, disputadas em 1958 e 1959 com o Gaúcho, os amadores do Independente e do Rio Grandense e o Grêmio Marau, convidado a fazer parte da Liga em 1956). Em 1957, ano do centenário do município, o 14 de Julho venceu os dois jogos, incluindo uma goleada por 4 a 1 em pleno estádio alviverde. A vitória ficou eternizada em um verso do hino do clube.
O Gaúcho bem que tentou quebrar a hegemonia rubra em 1959 e forçou uma “superdecisão” com dois jogos extras. Em vão. Outra festa do 14, depois de golear o tradicional adversário por 5 a 2 e 5 a 1.
A dinastia alviverde
Cansado de perder, o Gaúcho se reforçou e conseguiu acabar com a rotina rubra de levantar a taça do Citadino. Venceu a edição de 1961 com uma festa inesquecível. Depois de ganhar a decisão no Estádio Celso Fiori, jogadores e torcedores resolveram comemorar com o patrono Wolmar Salton na casa dele, que ficava próximo ao estádio. Alguns torcedores chegaram com fogos de artifício para animar ainda mais a festa. Foi quando a esposa de Salton, dona Irma, pediu que os foguetes não fossem usados, para que “se respeitasse a dor dos derrotados”.
Em 1962, o título voltaria às mãos do 14 em um jogo extra disputado no Estádio Tingaúna. Um novo empate em pontos levava a decisão de 1963 para outro jogo extra, que desta vez não aconteceu. O 14 de Julho decidiu entregar os pontos para o Gaúcho. Em 1964, outro empate entre as duas equipes. Desta vez, faltaram datas para os jogos. O 14 havia vencido a fase regional, disputava um lugar na 1ª Divisão e não tinha quando jogar.
Mas não foi só isso. Antes, os rubros já tinham pedido a anulação do segundo jogo contra o Gaúcho, o último pela primeira fase do campeonato, com vitória alviverde por 1 a 0. A alegação era um suposto suborno recebido pelo árbitro João Carlos Ferrari. O acusado era Tarzã Nummer, que teria feito o pagamento em nome de Oscar Abaal, presidente do Ypiranga de Erechim, que precisava de uma derrota do 14. Abaal acabou absolvido da acusação em julgamento do Tribunal de Justiça Desportiva por falta de provas. Além disso, o representante da FRGF no jogo, Sérgio Osorio, considerara normal a atuação de Ferrari. O presidente do Gaúcho, João Maluli, disse também que um “bicho” de 750 mil cruzeiros que o time de Erechim teria oferecido pela vitória alviverde nunca fora pago e que inclusive estava torcendo pelo 14 de Julho na decisão regional (vencida pelos colorados por 1 a 0).
A Liga procurou marcar o jogo decisivo pelo Citadino, mas a primeira tentativa foi atrapalhada pela requisição do Estádio Celso Fiori para um jogo pelo Campeonato Gaúcho Amador. Além disso, o ano estava chegando ao fim, e o Código Brasileiro de Futebol previa que os atletas teriam que entrar em férias a partir de 15 de dezembro. Realizar a decisão no início de 1965 também traria alguns problemas administrativos para a Liga.
Finalmente, quando surgiu uma data disponível, no dia 22 de novembro, o jogo não pôde ser realizado por um pedido do padre Humberto Lucca, que temia um esvaziamento da festa da paróquia Santa Terezinha com o clássico. Os jornais da cidade não falam o que aconteceu. Mas jogadores, técnicos, dirigentes e jornalistas entrevistados ao longo de vários anos durante as pesquisas para o livro Os Donos da Bola - O Campeonato Citadino de Futebol de Passo Fundo disseram que o Gaúcho ficou com a taça.
As confusões parariam em 1965, quando o Gaúcho começou a formar aquela que é considerada sua melhor equipe profissional e que ficou 30 jogos invicta (perdeu justamente na final da 2ª Divisão estadual para o Rio-Grandense de Rio Grande).
Em 1966, dois jogos épicos. Em ambos o Gaúcho marcou primeiro, sofreu a virada, mas passou novamente à frente para vencer por 3 a 2. Neste ano o alviverde ganhou o Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, o que lhe garantiu os títulos de 1967 e 1968 mesmo sem jogar, já que era o único da cidade na divisão principal. Em 1968 foi a vez do 14 de Julho vencer a “Segundona”. No ano seguinte, quando os dois se enfrentaram pela primeira vez pela 1ª Divisão, o Gaúcho perdeu o título porque se negou a entrar em campo para um jogo extra, alegando dificuldades para compor o time (o intervalo entre seus dois últimos jogos pelo Gauchão havia sido de dois meses) e acabou vendo o 14 vencer por decisão da Junta Disciplinar da LPF. O título foi recuperado no ano seguinte.
Em busca de dinheiro
Oito anos depois, no final de 1978, Gaúcho e 14 de Julho voltaram a se enfrentar pelo título citadino. Desta vez a competição não foi patrocinada pela Liga, mas pelos clubes, que decidiram marcar duas partidas para ver quem era o melhor (e também para tentar arrecadar dinheiro para manter os times em atividade). Os jogos não atraíram um grande público. O 14 venceu o primeiro clássico no Estádio Vermelhão da Serra por 2 a 0 e garantiu o empate por 1 a 1 no Estádio Wolmar Salton, naquele que foi o último título citadino do futebol passo-fundense.
Lista de campeões
Ed. | Ano | Campeão | Vice-campeão | Final |
---|---|---|---|---|
1ª | 1925 | 14 de Julho | Gaúcho | 2-0, 2-1 |
2ª | 1926 | Gaúcho | 14 de Julho | 4-1 |
3ª | 1927 | Gaúcho | América de Carazinho | 9-1 |
4ª | 1928 | Gaúcho | Não houve | - |
5ª | 1930 | 14 de Julho | Não houve | - |
6ª | 1935 | Rio Grandense | Não houve | - |
7ª | 1936 | Cruzeiro | Não houve | - |
8ª | 1937 | Cruzeiro | Não houve | - |
9ª | 1939 | Gaúcho | Não houve | - |
10ª | 1940 | Rio Grandense | Gaúcho | - |
11ª | 1941 | Rio Grandense | 14 de Julho | 4-3, 3-5, 6-0 |
12ª | 1942 | Rio Grandense | 14 de Julho | 2-2, 3-1, 0-1, 2-0 |
13ª | 1943 | 14 de Julho | Rio Grandense | - |
14ª | 1944 | Rio Grandense | 14 de Julho e Gaúcho | - |
15ª | 1945 | 14 de Julho | Independente | - |
16ª | 1946 | Independente | 14 de Julho | - |
17ª | 1947 | 14 de Julho | Gaúcho | - |
18ª | 1948 | Gaúcho | Independente | - |
19ª | 1949 | Gaúcho | Independente | - |
20ª | 1950 | Gaúcho | Atlético | - |
21ª | 1951 | Atlético | 14 de Julho | 2-1 |
22ª | 1952 | Independente | Atlético e Rio Grandense | - |
23ª | 1953 | Independente | Rio Grandense | - |
24ª | 1954 | Gaúcho | 14 de Julho | 3-2, 6-3 |
25ª | 1955 | 14 de Julho | Não houve | - |
26ª | 1956 | 14 de Julho | Gaúcho | 1-0, 2-4, WO-0 |
27ª | 1957 | 14 de Julho | Gaúcho | 4-1, 1-0 |
28ª | 1958-E | 14 de Julho | Independente | - |
29ª | 1958 | 14 de Julho | Gaúcho | 1-1, 4-2 |
30ª | 1959-E | 14 de Julho | Gaúcho | - |
31ª | 1959 | 14 de Julho | Gaúcho | 2-2, 0-0, 5-2, 5-1 |
32ª | 1960 | 14 de Julho | Gaúcho | 3-1, 1-1 |
33ª | 1961 | Gaúcho | 14 de Julho | 1-0, 2-0 |
34ª | 1962 | 14 de Julho | Gaúcho | 2-0 |
35ª | 1963 | Gaúcho | 14 de Julho | WO-0 |
36ª | 1964 | Gaúcho | 14 de Julho | WO-0 |
37ª | 1965 | Gaúcho | 14 de Julho | - |
38ª | 1966 | Gaúcho | 14 de Julho | 3-2, 3-2 |
39ª | 1967 | Gaúcho | Não houve | - |
40ª | 1968 | Gaúcho | Não houve | - |
41ª | 1969 | 14 de Julho | Gaúcho | 1-1, 0-0, WO-0 |
42ª | 1970 | Gaúcho | 14 de Julho | 1-1, 2-1 |
43ª | 1978 | 14 de Julho | Gaúcho | 2-0, 1-1 |
**1926: Título disputado em pontos corridos. Com o empate entre Gaúcho e 14 de Julho, foi preciso disputar um jogo extra.
*1928: As outras equipes desistiram.
*1930: Único clube da cidade inscrito na Federação Atlética Gaúcha de Esportes Terrestres, foi declarado campeão.
*1935: Único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado campeão.
*1936: Único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado campeão.
*1937: Único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado campeão.
*1939: Único clube da cidade filiado à Federação Rio-Grandense de Desportos, foi declarado campeão.
*1940: Título disputado em pontos corridos.
*1941: Título disputado em pontos corridos, mas se precisou um turno extra e depois mais três jogos extras para definir o campeão.
*1942: Título disputado em pontos corridos, mas se precisou de quatro jogos extras para definir o campeão.
*1943: Título disputado em pontos corridos.
*1944: Título disputado em pontos corridos. 14 de Julho e Gaúcho, empatados em pontos, deveriam disputar um jogo extra para se apontar o vice-campeão, mas a partida não aconteceu.
*1945: Título disputado em pontos corridos.
*1946: Título disputado em pontos corridos.
*1947: Título disputado em pontos corridos.
*1948: Título disputado em pontos corridos.
*1949: Título disputado em pontos corridos.
*1950: Título disputado em pontos corridos.
*1951: Título disputado em pontos corridos, mas se precisou de um jogo extra para definir o campeão. No tempo normal, 1 a 1. Na prorrogação, Atlético 1 a 0.
*1952: Título disputado em pontos corridos.
*1953: Título disputado em pontos corridos.
*1954: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão.
*1955: Único clube da cidade participando do campeonato estadual, o 14 de Julho foi declarado campeão.
*1956: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão. Com o empate em pontos, foi preciso disputar um jogo extra. O Gaúcho desistiu.
*1957: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão.
*1958-E: Edição extra da competição. Título disputado em pontos corridos.
*1958: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão.
*1959-E: Edição extra da competição. Título disputado em pontos corridos.
*1959: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão. Com o empate em pontos, foi preciso disputar dois jogos extras, chamados de “Supercampeonato”.
*1960: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão.
*1961: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão.
*1962: Título disputado em pontos corridos, mas se precisou de um jogo extra para definir o campeão.
*1963: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, mas se precisou de um jogo extra para definir o campeão. O 14 de Julho desistiu.
*1964: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, mas se precisou de um jogo extra para definir o campeão. O 14 de Julho desistiu.
*1965: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, envolvendo também o Rio Grandense.
*1967: O Gaúcho foi considerado campeão da cidade porque era o único clube de Passo Fundo disputando o Campeonato Gaúcho da 1ª Divisão.
*1968: O Gaúcho foi considerado campeão da cidade porque era o único clube de Passo Fundo disputando o Campeonato Gaúcho da 1ª Divisão.
*1969: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho, mas se precisou de um jogo extra para definir o campeão. O Gaúcho desistiu.
*1970: Jogos válidos pelo Campeonato Gaúcho.
Títulos
Equipe | Títulos | Anos |
---|---|---|
14 de Julho | 16 | 1925, 1930, 1943, 1945, 1947, 1955, 1956, 1957, 1958, 1958-E, 1959, 1959-E, 1960, 1962, 1969, 1978 |
Gaúcho | 16 | 1926, 1927, 1928, 1939, 1948, 1949, 1950, 1954, 1961, 1963, 1964, 1965, 1966, 1967, 1968, 1970 |
Rio Grandense | 5 | 1935, 1940, 1941, 1942, 1944 |
Independente | 3 | 1946, 1952, 1953 |
Cruzeiro | 2 | 1936, 1937 |
Atlético | 1 | 1951 |
*1958-E: Edição extra da competição.
*1959-E: Edição extra da competição.
Lista de goleadores
Ano | Gols | Jogador | Equipe |
---|---|---|---|
1925 | - | Não disponível | |
1926 | - | Não disponível | |
1927 | - | Não disponível | |
1928 | - | Não disponível | |
1930 | - | Não houve | |
1935 | - | Não houve | |
1936 | - | Não houve | |
1937 | - | Não houve | |
1939 | - | Não houve | |
1940 | 7 | Celio Barbosa | Rio Grandense |
1941 | 15 | Miléo | 14 de Julho |
1942 | - | Não disponível | |
1943 | 6 | Micuim | Gaúcho |
1944 | 7 | Amado | 14 de Julho |
1945 | 6 | Aita | Independente |
1946 | - | Não disponível | |
1947 | 5 | Celio Barbosa | 14 de Julho |
1948 | 3 | Chinês | Gaúcho |
Labarte | Gaúcho | ||
Tubino | Gaúcho | ||
1949 | - | Não disponível | |
1950 | 8 | Nery | Atlético |
1951 | 7 | Sebo | Atlético |
1952 | 8 | Plinio Rosseto | Independente |
1953 | 8 | Plinio Rosseto | Independente |
1954 | 4 | Arcy | Gaúcho |
1955 | - | Não houve | |
1956 | 2 | Itamar | Gaúcho |
1957 | 2 | Gringo | 14 de Julho |
1958-E | - | Não disponível | |
1958 | 2 | Armando Rebechi | 14 de Julho |
Hélio | 14 de Julho | ||
Itamar | Gaúcho | ||
1959-E | - | Não disponível | |
1959 | 3 | Calé | 14 de Julho |
1960 | 2 | Meca | 14 de Julho |
1961 | 3 | Montezzana | Gaúcho |
1962 | - | Não disponível | |
1963 | 4 | Meca | Gaúcho |
1964 | 4 | Armando Rebechi | 14 de Julho |
1965 | 6 | Naninho | 14 de Julho |
1966 | 2 | Bebeto | 14 de Julho |
1967 | - | Não houve | |
1968 | - | Não houve | |
1969 | 1 | Marciano | Gaúcho |
Mariotii | 14 de Julho | ||
1970 | 3 | Rubens | Gaúcho |
1978 | 2 | Soares | 14 de Julho |
*1958-E: Edição extra da competição.
*1959-E: Edição extra da competição.