Cyril John Barrick
Cyril John Barrick, também conhecido como “Mister Barrick” ou “Velho Jack” (Northampton, Inglaterra, 16 de julho de 1900 — Northampton, Inglaterra, 5 de novembro de 1976), foi um famoso árbitro inglês que trabalhou no Rio Grande do Sul durante o final da década de 1940. Barrick comandou os dois jogos de inauguração do Estádio Celso Fiori em 1949.
História
O árbitro faria sua estreia internacional entre seleções aos 46 anos, em 1947, quando dirigiu um amistoso entre Portugal e Suíça na cidade portuguesa de Oeiras que terminou empatado por 2 a 2. Ele comandaria apenas outros dois jogos entre selecionados europeus: Irlanda 3-2 Espanha e França 1-0 Portugal, ambos também em 1947.
No ano seguinte, inspirada na iniciativa da Federação Metropolitana de Futebol do Rio de Janeiro, a Federação Rio Grandense de Futebol (FRGF) decidiu qualificar seu quadro de arbitragem contratando árbitros ingleses para dirigirem partidas na capital gaúcha. Barrick (que veio do Rio de Janeiro, onde atuava com outros três conterrâneos, e também passaria por gramados paulistas, mineiros e onde mais fosse contratado) foi um deles, tornando-se figura constante nos estádios de Porto Alegre e, pontualmente, em jogos dos times da capital no interior ou qualquer encontro que exigisse um “apitador mais gabaritado” (e, claro, desde que devidamente pago).
Foi assim que Barrick arbitrou, por exemplo, no dia 10 de novembro de 1949, o amistoso entre o Pelotas e o Internacional no Estádio Boca do Lobo. Pouco tempo depois, marcaria presença em Passo Fundo. Em 19 de novembro, o inglês dirigiu o jogo entre Gaúcho e Internacional (vitória colorada por 8 a 2), o primeiro disputado no Estádio Celso Fiori, que seria oficialmente inaugurado no dia seguinte, quando o 14 de Julho também enfrentou o time colorado (que novamente venceu, agora por 8 a 1), outra vez com Barrick no apito.
Antes, também em 1949, contratado pela Confederação Brasileira de Desportos, Barrick apitaria 11 jogos do Campeonato Sul-Americano, incluindo a final no Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, quando o Brasil venceu o Paraguai por 7 a 0 e conquistou seu terceiro título continental. Ele também comandaria os jogos pela Copa Rio Branco entre Brasil e Uruguai pouco antes da Copa do Mundo de 1950.
Ainda em 1950, considerado o árbitro oficial da Federação Rio Grandense, Barrick se queixava da quantidade de jogos em que era escalado. À reportagem do Correio do Povo, dizia que chegava a atuar mais de três vezes por semana, o que era “fora dos termos de compromisso” com a FRGF. Assim mesmo, o árbitro cumpriria seu contrato até o fim do ano, voltando para a Inglaterra, onde viviam sua esposa e filho.
Controvérsias
No início de sua carreira no Brasil, considerado um profundo conhecedor das regras do jogo, Barrick era anunciado pelos jornais gaúchos como “o árbitro número 1 do mundo”, claramente um exagero. Além dos poucos jogos internacionais entre seleções no currículo (nunca teve presença em Copa do Mundo ou edição dos Jogos Olímpicos, por exemplo), o árbitro tinha participado de apenas uma grande decisão entre clubes, a Copa da Inglaterra (FA Cup) em 1948.
No mesmo ano de 1948, Barrick criou uma grande confusão na final do Campeonato Mineiro. O Atlético jogava por um empate para ficar com o título, mas viu o América abrir 2 a 0. O público era superior a 15 mil pagantes e parte do alambrado cedeu. Barrick interrompeu a partida, para que as vítimas fossem socorridas e para que se retirassem do campo os torcedores que haviam invadido a pista. O galo diminuiu ainda no primeiro tempo. Ao fim dos 45 minutos regulamentares, o árbitro determinou a troca de lado e reiniciou o jogo sem intervalo, uma vez que a partida ficara interrompida cerca de 20 minutos. No começo do segundo tempo houve outra confusão. Em um ataque do América, uma bola chutada para fora bateu na perna de um guarda que assistia à partida praticamente no campo e voltou para dentro do gol, que foi validado: 3 a 1. Aos 23 minutos, o clímax. O Atlético marca seu segundo gol, anulado pelo árbitro, que havia marcado impedimento em um lance anterior. Os jogadores alvinegros partiram para nova reclamação e abandonaram o campo, que então foi encerrado pelo inglês.
Finalmente, em 1951, chegou-se a cogitar a possibilidade de Barrick criar uma escola de árbitros no Rio de Janeiro ligada à Federação Metropolitana de Futebol ou mesmo à Confederação Brasileira de Desportos.
Interessado na possibilidade de bons ganhos financeiros, o inglês escreveu uma carta para a FMF onde “excedia-se nos elogios a si próprio”, como frisou o jornal carioca Diário da Noite, com afirmações como “asseguro a vocês que a só a minha presença nos campos do Rio irá aumentar ainda mais os inúmeros torcedores cariocas e, por conseguinte, o dinheiro que a FMF gastar comigo voltará para ela em poucos meses”. Esta parte da carta, inclusive, teria sido o suficiente para que a federação do estado não mais contratasse Barrick para apitar os jogos de suas competições.
A carta terminava de uma maneira nada simpática: “Ultimamente tenho estado muito ocupado, recebendo convites e correspondência de todas as partes do mundo para comparecer a banquetes e como convidado de honra”, finalizando que poderia apitar no máximo duas vezes por semana (ele já tinha 51 anos de idade) porque não era “nenhum super-humano”.
Cansado de esperar uma resposta dos cariocas, Barrick enviou nova correspondência ao departamento de árbitros da FMF informando que havia aceitado ser treinador de um clube da segunda divisão da Liga Inglesa.
Assim, terminava no país a carreira do, talvez, mais famoso árbitro estrangeiro a apitar no futebol brasileiro e que teve uma rápida passagem por Passo Fundo.