Santarém (Antonio Carlos Lemos Santarém): mudanças entre as edições
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Edição das 18h36min de 7 de julho de 2024
Antonio Carlos Lemos Santarém, também conhecido como Santarém (Porto Alegre-RS, 30 de dezembro de 1939 — Passo Fundo, 7 de maio de 2019), foi um meia e atacante do Gaúcho e do 14 de Julho, famoso pela sua habilidade e considerado o melhor jogador da história do alvirrubro passo-fundense e por isso faz parte da Seleção de Todos os Tempos do 14 de Julho.
História
- Por Marco Antonio Damian, historiador e pesquisador de futebol
A bola o procurava em campo. Ela gostava dos pés daquele mulato atarracado. Afinal, ele a tratava com imenso carinho. Era o mesmo amor que Romeu tinha por Julieta. Tal qual um William Shakespeare, ele “escrevia” romances e poemas com a bola em seus pés. Na época em que desfilava sua infinita categoria e habilidade, os campos de jogo não eram como hoje. Especialmente nos pequenos estádios do interior. A grama era algo raro. E, quando tinha, era eivada de touceiras, barba de bode e outras gramíneas. O restante, principalmente o meio de campo, era terrão. E nosso craque jogava ali, no meio do campo, no meio do terrão, com cocurutos, mas mesmo assim, tratava a bola com a intimidade de velhos amantes na alcova.
Nascido em Porto Alegre, ganhou o nome de Antonio Carlos. O sobrenome da mãe era Lemos e do pai, Santarém. Desde criança amava a bola. Ao servir o Exército foi descoberto por um oficial numa “pelada” entre os recrutas. Levado ao Cruzeiro, então um grande clube, abafou no primeiro treinamento. Era o ano de 1960 e o clube estrelado realizaria excursão à Europa. O treinador preteriu na delegação o craque Santarém, que, emburrado, largou o clube, se transferindo para o Glória de Carazinho. Este foi apenas seu primeiro erro. Jogou no Veterano, da mesma cidade, e depois veio para Passo Fundo. Jogou no 14 de Julho, Gaúcho, Flamengo de Caxias do Sul e novamente 14 de Julho. No clube alvirrubro permaneceu entre 1965 a 1972, com um pequeno interregno, para defender, por seis meses, o Ypiranga de Erechim.
Com a camisa vermelha jogou tudo o que sabia e o que havia aprendido. Realizou campanhas exuberantes, como a do título do Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão em 1968. No jogo em que se sagrou campeão regional, contra o Veterano, marcou dois gols na vitória por 3 a 1, arrasando o adversário com dribles e jogadas geniais. Fez gols antológicos, como aquele contra o Flamengo de Caxias do Sul, em 1967, no velho Estádio Celso Fiori. Recebeu a bola em sua intermediária e foi driblando todo o adversário que ousasse chegar à sua frente, ao todo, sete flamenguistas, mais o goleiro, que também foi fintado, empurrando a bola para dentro do gol vazio. Feliz daquele que presenciou aquele momento mágico, e eu, com meus 11 anos de idade, fui um deles.
Santarém foi ídolo de uma torcida apaixonada por ele. Santarém foi um craque extraordinário como poucos que passaram pelo futebol de Passo Fundo. Dizem que se jogasse hoje estaria em um grande clube. Possivelmente seja verdade, caso ele levasse a sério sua profissão. Mas, em Passo Fundo ele tinha tudo, não precisava de mais nada. Era amado, reconhecido e ganhava dinheiro, evidentemente que ninguém ganhava os valores que se paga nos dias atuais. Santarém sabia que era craque. Talvez, hoje, com a abertura do mercado do futebol, ele pudesse estar num clube europeu, encantando a milhões de pessoas, pela TV por assinatura, mas Santarém nasceu numa outra época.
Jogou no final da carreira em pequenos clubes, como o Colorado de Não-Me-Toque e Independente, ambos amadores, e foi trabalhar na Caixa Econômica Estadual, onde se aposentou.
A lembrança de suas jogadas geniais está na memória de quem o viu jogar. E, aqueles privilegiados, podem bater no peito e dizer que viram Santarém, um craque, jogar futebol.
Seus dias de aposentado, em Passo Fundo eram gastos com longos bate-papos com seus fãs e nos bares e dancings. Caminhava a passos lentos, sorrindo ao cumprimentar os amigos, que se esmeravam em lembrar seus tempos de glórias como jogador. Quando o amigo saia, falava com aquela ironia que só ele tinha:
– Contando uma "novidade".
Esse era Santarém. O craque morreu no dia 7 de maio de 2019, aos 79 anos. Ele ficou internado por cerca de 15 dias no Hospital São Vicente de Paulo, onde tratava um câncer no fígado, quando teve uma parada cardíaca.
Honras
- 1º jogador com maior número de jogos pelo 14 de Julho (211)
- 7º jogador com maior número de gols pelo 14 de Julho (38)
- Integrante da Seleção de Todos os Tempos do 14 de Julho como meia
- Integrante do Hall da Fama do Futebol de Passo Fundo
Carreira como jogador
Ano | Equipe | J | G | CA | CV |
---|---|---|---|---|---|
1962 | Gaúcho | 1 | 0 | 0 | 0 |
1963 | 14 de Julho | 14 | 2 | 0 | 0 |
1964 | Gaúcho | 10 | 0 | 0 | 1 |
1965 | 14 de Julho | 20 | 6 | 0 | 0 |
1965 | Seleção dos Pretos | 1 | 0 | 0 | 0 |
1966 | 14 de Julho | 25 | 3 | 0 | 0 |
1967 | 14 de Julho | 34 | 8 | 0 | 0 |
1968 | 14 de Julho | 25 | 8 | 0 | 0 |
1969 | 14 de Julho | 31 | 2 | 0 | 0 |
1970 | 14 de Julho | 35 | 4 | 0 | 0 |
1971 | 14 de Julho | 20 | 4 | 0 | 0 |
1972 | 14 de Julho | 7 | 1 | 0 | 0 |
1972 | Gaúcho | 3 | 0 | 0 | 0 |
Total | 226 | 38 | 0 | 1 |
Carreira como técnico
Ano | Equipe | J | V | E | D | A |
---|---|---|---|---|---|---|
1974 | Gaúcho | 5 | 2 | 0 | 3 | 40% |
1975 | Gaúcho | 29 | 14 | 7 | 8 | 60% |
1977 | 14 de Julho | 21 | 8 | 5 | 8 | 50% |
1987 | Gaúcho | 1 | 0 | 0 | 1 | 0% |
Total | 56 | 24 | 12 | 20 | 54% |